Você deseja por mais amor?

Desejamos mais amor, intimidade, conexão, entrega, intensidade, e para se ter tudo isso é preciso pagar um alto preço: o sacrifício de sermos vulneráveis.  

Relacionamentos íntimos é quase que um ato de coragem, porque se sentir vulnerável, implica correr riscos, dar a cara a tapa, rasgar o coração, expressar sentimentos, se envolver, doar-se, sem nenhuma garantia de ser eterno ou correspondido, é fazer mesmo diante de incertezas. 

A vulnerabilidade é a estrada que nos leva até o outro. Queremos amor, mas temos tanto medo de nos expor e medo de conhecermos verdadeiramente as pessoas, que ao invés de, conseguirmos nos conectar, acabamos magoando uns aos outros e criamos relações superficiais, medíocres, rasas, frívola, isso quando não optamos por ficarmos solteiros. 

Preferimos usar armaduras, e nos proteger, é mais seguro, confortável e previsível. A grande questão é que para ter um relacionamento feliz, não existe outra forma, esse é o caminho. 

Quando você escolhe amar alguém, nunca terá a certeza se essa pessoa te amará para todo sempre, de que ela não irá partir, mudar de rota, sonhos, planos ou até adoecer e vir a falecer.  

Goste ou não, isso faz parte da vida, não temos controle e previsibilidade quanto ao futuro, alguns dizem que essa é a dádiva da vida, pois assim, podemos apreciar, celebrar e contemplar o hoje. 

Amar é ser vulnerável, é dar seu coração e falar: sei que posso me magoar, mas quero fazer isso. Quero ser vulnerável e amar você.  

É triste para mim, ver que algumas pessoas preferem nunca conhecer o amor, por evitar a se magoar ou a sofrer, nutrem a crença que é preferível não ser disponível afetivamente. 

Dizer que é impossível amar, sem ser vulnerável não é totalmente verdade, porém ser vulnerável e amar é a única fórmula para se construir uma relação calorosa, íntima e verdadeiramente feliz. 

Para esclarecer melhor a complexidade do amar, Irei compartilhar uma história  surpreendente, que extrai de um livro, e é contada sobre o terapeuta que atendeu em seu consultório esse casal. 

Acredito que essa história poderá te inspirar e despertar algumas reflexões um tanto interessantes.. 

Jenna, uma mulher de 41 anos, procurou a terapia companhada de seu noivo, Ken, de 48 anos, porque ela apresentava dificuldade de se envolver com ele emocionalmente.  

Jenna explicou que havia namorado muitos homens ao longo dos anos, mas nunca tivera nenhum relacionamento prolongado. Os relacionamentos duravam apenas alguns meses e terminavam porque ela não conseguia corresponder à emoção do namorado. 

A maioria dos homens que namoraram Jenna ficaram frustrados com ela e em consequência terminavam o relacionamento, alegando de que ela era fria e rígida demais com eles.  

Só no último ano e meio Jenna conheceu Ken, que parecia ser mais tolerante quanto ao seu comportamento e estar apaixonado por ela, apesar da sua rigidez.  

Jenna estava muito apaixonada por Ken, mas eles estavam passando por dificuldades, por que ela tinha problemas em ficar emocionalmente próxima e era incapaz de exibir afeição emocional.  

Jenna prosseguiu para mim explicando que conseguia ficar fisicamente íntima com Ken, mas lutava com a intimidade e não era capaz de reagir emocionalmente às suas demonstrações afetivas, como lhe dizer que o amava.  

Por exemplo, ambos me disseram que quando Ken se sentia afetivo em relação à Jenna, ele a abraçava, mas Jenna tinha dificuldade em continuar abraçando Ken por um tempo prolongado. Após alguns segundos de abraço, ela o empurrava. Ken, no entanto, queria mais de Jenna e ficava frustrado com ela.  

Jenna também disse que, quando eles faziam amor, conseguiam ter relações sexuais e ser íntimos até certo ponto, mas isso durava pouco porque Jenna evitava se aprofundar muito “nisso” com Ken. 

Apesar de todas as dificuldades que me descreveu, Jenna disse que amava muito  Ken e achava que ele era a primeira pessoa com quem ela queria se casar.  

Entretanto, embora estivessem noivos, ambos se preocupavam de que Jenna jamais fosse capaz de se soltar emocionalmente para se envolver em um relacionamento íntimo duradouro. 

Decidi passar algum tempo lidando com as origens de Jenna e investigando sua família em uma tentativa de entender melhor sua dinâmica familiar e a maneira como ela foi criada.  

Jenna descendia de uma família sérvia‑americana, e seu pai era extremamente controlador e dominante. Sua mãe, no entanto, era passiva e dócil. 

Jenna (que tendia a ser assertiva já na adolescência) entrava em choque com o pai e desenvolveu um relacionamento muito tenso com ele.  

Ela se descreveu como “detestando” o pai, devido ao seu estilo dominador e arrogante e à maneira como tratava sua mãe.  

Ela nunca se sentiu ligada ao pai e, na verdade, até se referia a ele por seu primeiro nome.  

Jenna prosseguiu dizendo ter sofrido de um transtorno alimentar durante a adolescência e também de um pouco de depressão. 

Finalmente, ficou tão indignada com a arrogância do pai que saiu de casa aos 18 anos. Conseguiu se dar muito bem como corretora de valores, tal como o pai, mas continuava a ter pouco a ver com ele.  

Encarava‑o como uma “figura paterna”, mas se ressentia da maneira como sua mãe se submetia a ele, quase como uma criada.  

(É interessante notar que Jenna tinha um irmão mais moço, mais parecido com a mãe, que se casou com uma mulher dominadora, como o pai.) 

Consequentemente, Jenna cuidava‑se para não ser “consumida pelos homens”, como dizia, e não revelava muito sua vulnerabilidade nos relacionamentos.  

Afirmava ter sido “emocionalmente traumatizada” pelo pai, o que fez com que desenvolvesse uma defesa que impedia que qualquer homem se tornasse mais íntimo dela.  

Ken era o primeiro a chegar tão longe, e Jenna admitia que isso era muito difícil para ela. Jenna também explicou: “Sinto que, se permitisse que ele se aproximasse demais, eu perderia uma parte de mim e, portanto, perderia o controle”. 

Grande parte do meu trabalho de terapueta com Jenna girou em torno de suas questões de apego inicial com o pai.  

Ela queria ser a “garotinha do papai” quando bem pequena, mas nunca conseguiu corresponder às expectativas dele.  

De muitas maneiras, Jenna achava que seu pai a afastava, criticando‑a e sendo sempre extremamente exigente. Ela se lembrava de um incidente ocorrido quando tinha 10 anos.

Levou para casa um boletim escolar em que obtivera nota 10 na maioria das disciplinas e apenas um 9. Seu pai a repreendeu por ser tão “fraca e insolente” e arruinar um recorde potencialmente perfeito.  

Jenna se lembra do pai como um tirano que tinha expectativas absurdas, e ela se ressente com ele por isso. Não obstante, tentou corresponder às expectativas do pai para ganhar o seu amor. 

Nesse aspecto, Jenna aprendeu a nunca confiar muito nos homens e transferiu a ligação deficiente que tinha com o pai para os relacionamentos românticos com os homens em geral.  

Tentou compensar essa falta tornando‑se muito próxima da mãe e criou uma barreira em seus relacionamentos com os homens. 

Jenna relatou que tentava se aproximar do pai, mas que ele sempre a afastava, criticando‑a e diminuindo‑a, e assim destruindo a autoestima da filha.  

Quando Jenna começou a namorar, descobriu que muitos de seus namorados faziam a mesma coisa e basicamente só queriam usá‑la para um relacionamento sexual. 

Essas experiências fizeram com que Jenna endurecesse ao longo dos anos e aumentasse ainda mais a barreira que a separava de qualquer homem.  

Desenvolveu a crença de que não era muito importante para os homens senão para satisfazer suas necessidades físicas. 

Esse sistema de crença fez com que ela endurecesse ainda mais e se isolasse de qualquer emoção. 

Entre os focos do nosso trabalho juntos, estava ajudar Jenna a aprender a se soltar e se abrir para Ken. A maior parte da terapia se concentrou em sua solicitação de aprender a sentir.  

Jenna com frequência dizia: “Eu quero me abrir emocionalmente para o Ken, mas como posso fazer isso se estou ‘emocionalmente cauterizada’?”. Achei muito interessante o termo que Jenna usou, “emocionalmente cauterizada”.  

Certamente era um termo que a descrevia bem. Ensinar Jenna a ser menos defensiva se tornou um importante desafio na terapia. Trabalhamos muito a sua ausência de apego com Ken e o seu medo de confiar nele.  

Uma das áreas que usei como instrumento foram as relações sexuais de Jenna com Ken. Quando reuni informações com relação à sua intimidade sexual, Jenna me informou que conseguia atingir o orgasmo durante a relação vaginal com Ken.  

Informou‑me que isso não era problema, era sim algo de que ela gostava. Perguntei‑lhe especificamente como ela conseguia se soltar e atingir o orgasmo sem se sentir cautelosa e vulnerável.  

Ela não conseguiu me explicar como fazia isso, além de dizer que se “concentrava no momento”. Usei isso como uma estrutura em uma tentativa de ajudar Jenna a se soltar e experienciar emoção com Ken.  

Por exemplo, eu a envolvi em vários exercícios, em que a fazia propositalmente se aproximar de Ken e lhe pedir um abraço, e nesse ponto a instruía a intencionalmente prolongar o abraço.  

Também fiz Jenna examinar o que ela sentia ao fazer isso e identificar os pensamentos específicos que ela tinha sobre vulnerabilidade ou perda de controle. 

Durante o primeiro exercício, Jenna disse que conseguiria concluir a tarefa, mas não conseguiria penetrar em seus pensamentos. Ela simplesmente ficava inexpressiva e  

se sentia como se estivesse emocionalmente entorpecida.  

Pedi a Jenna para repetir o exercício em várias ocasiões, mas se concentrar na sensação do corpo de Ken e no calor dos dois juntos, assim como em suas respectivas respirações durante o abraço.  

Por certo tempo, encorajei Jenna a entrar em contato com uma sensação de gostar de estar envolvida nos braços de Ken, visto que ele era muito maior do que ela, mas, ao mesmo tempo, lembrar‑lhe a sua sensação de “medo e vulnerabilidade”.  

Ao longo do tempo, fiz Jenna se reexpor durante períodos de tempo mais longos e a encorajei a dizer em voz alta o que sentia, quais eram seus pensamentos sobre o que estava sentindo.  

Propus convidar o pai de Jenna para uma sessão, a fim de que pudéssemos tratar do relacionamento deles.  

De início, Jenna se irritou diante da ideia e expressou suas reservas sobre como a sessão poderia transcorrer.  

Surpreendentemente, o pai de Jenna foi muito aberto a comparecer à sessão. Disse que estava estressado há anos devido ao seu relacionamento deficiente com a filha e que gostaria de tentar melhorá‑lo.  

Inicialmente nos reunimos com Jenna, sua mãe e seu pai para discutir a dinâmica familiar.  

A mãe de Jenna reforçou a ideia de que, durante anos, ela havia se sentido desconfortável com o relacionamento de Jenna com o pai e achava bom que eles concordassem em fazer terapia juntos. 

Conduzi várias sessões com Jenna e seu pai, George, em que conversamos sobre  seu apego e vínculo. O pai de Jenna admitiu a existência de um vínculo muito pequeno porque ele nunca soubera como se vincular com sua própria mãe.  

Sua mãe era uma migrante sérvia rígida, descrita por ele como “desprovida de emoções”. Seu pai morreu muito jovem, de colapso cardíaco.  

Por isso, era muito difícil para George expressar emoções até conhecer a mãe de Jenna. Embora sua esposa fosse muito afetiva e oferecesse apoio, George admitia que ele com frequência rejeitava suas demonstrações de afeto porque tinha dificuldade de lidar com a emoção intensa.  

Discutimos o quanto isso impactou o relacionamento de George com Jenna e falamos sobre o vínculo que os dois deixaram de desenvolver. 

Esse processo demorou aproximadamente 8 meses, mas provou ajudar Jenna significativamente a aprender a se abrir e se deixar sentir.  

Jenna com frequência dizia: “Precisamos apenas cortar as bordas cauterizadas para eu poder sentir de novo”.  

Também discutimos a ideia de que o que parecia “entorpecimento” para Jenna era na verdade seu próprio isolamento auto imposto como um modo de proteção.  

Ela com frequência acreditava ser incapaz de sentir porque nunca havia experienciado seus sentimentos no passado.  

Sugeri‑lhe que suas lembranças eram um meio de ela se proteger, como faz uma tartaruga recolhendo‑se em sua carapaça. 

Essa história nos revela a complexidade e as nuances do amor. Quando escolhemos alguém, escolhemos também abraçar e acolher sua bagagem de vida, seus traumas, medos, crenças, experiências ruins e também sua família de origem. 

Lembre-se todos nós carregamos nossos por quês e explicações, Jenna não conseguia dizer que amava seu noivo, com o desenrolar da história  compreendemos que embora ela amasse, tinha seus mais profundos motivos para tal dificuldade. 

É verdade que para se ter uma linda história de amor não é uma tarefa simples e fácil, mas é muito possível e acessível quando estamos dispostos a pagar o preço. 

Todos nós merecemos ser felizes no amor. 

Com amor

Ana Paula de Andrade, Psicóloga

Prazer, sou a Ana

Ajudo as pessoas a terem uma vida mais significativa, feliz e leve, tornando-as mais maduras, seguras, decididas e resolvendo suas dificuldades de forma inteligente.

Sou psicóloga clínica e fascinada pelo ser humano, pelas suas potencialidades, virtudes e forças. Nascemos com alguns propósitos, e um deles é sermos felizes. 

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